Após uma premiada primeira temporada, a Hulu obviamente decidiu renovar The Handmaid’s Tale para uma segunda temporada. A dúvida de todos era: a série tem mais o que mostrar sobre a vida da aia na república de Gilead? E eu lhes digo que sim.
Esse texto contém spoiler da série. Leia se já tiver assistido ou por sua conta em risco.

A temporada começa com a fuga de June e seu difícil caminho rumo ao Canadá. A fuga não dá certo e a aia é levada de volta para a casa dos Waterford. Vimos nessa temporada June ser torturada de várias maneiras. Tortura física, psicológica, o sentimento de culpa pelo rastro que a tentativa de fuga dela deixou. Vi muitas pessoas dizendo que a série tinha virado uma espécie de torture porn, onde víamos June ser torturada episódio após episódio. Eu acho que eles retrataram aquilo que precisavam. Ali é um mundo difícil, opressor. A fuga de uma aia grávida é algo sério, quebrar a personalidade dela, colocar toda a culpa em June e deixar Offred livre para ser a “aia boazinha” é cruel mas parece bem algo que aquele sistema faria, na tentativa de se preservar. Mas durante a temporada vimos June ir de total rebelde para submissa e etão rebelde de novo. Confesso que esse vai e vem me cansou um pouco. O fato dela fugir, voltar para a casa, fugir de novo e decidir ficar em Gilead também me preocupa, pois não quero que ela volte a casa dos Waterford de novo. Sei que é importante para a série a dinâmica entre June e os moradores da residência mas acho que já era de andarmos com isso e encontrar novos meios de narrativa.

Por falar em dinâmica, a melhor coisa para mim foi a interação entre June e Serena. Que construção de personagem maravilhosa a que fizeram com Serena! É, para mim, a personagem mais complexa da série. É difícil para quem gosta de dividir personagens em bons e maus saber onde colocar Serena. Ela faz muitas atrocidades e coisas ruins, não me entenda errado, não a estou defendendo. Mas você entende o que ela quer, entende o quanto ela perdeu para conseguir, entende que ela já foi longe demais para voltar atrás. Quando em visita ao Canadá, lhe é ofertado a possibilidade de fugir e ela nega. Não consigo ver Serena Joy fugindo e sendo bem recebida em nenhum grupo de refugiados de Gilead. Ela sabe que não pode fugir. Mas também sabe que aquele país do jeito que está não será bom para sua filha crescer e tenta mudar isso. Serena assumiu o comando do escritório de Fred enquanto ele estava internado por causa do atentado de Offglen. Contou com a ajuda de Nick e June. Ofereceu uma caneta a June e confiou nela. Apanhou do marido quando ele descobriu. Serena enfrentou os comandantes e em busca de um futuro melhor para sua filha os desafiou, lendo a bíblia para eles. Perdeu um dedo por isso. Embora castigada por isso, esse ato da esposa nos mostra o poder da união. E essa revolução esta começando a acontecer. Aias juntas, com o mayday, fizeram um pouco. Martas unidas conseguiram a fuga de Emily e a bebê Nicole. Esposas unidas podem conseguir mais. Aias, martas e esposas juntas podem mudar tudo. Sororidade.

A atriz Alexis Bledel entrou para o elenco fixo da série nessa segunda temporada mas achei sua participação tão pequena como na primeira. Pequena porém pontual. Conhecemos um pouco do seu passado como professora universitária, vimos sua esposa e seu filho. Há uma cena onde Emily e a família tentam ir para o Canadá mas Emily é impedida de ir pois aquele casamento não é mais válido. “É a lei”. É um episódio ainda no bem no começo da temporada mas que me fez pensar tanto e ainda está comigo agora que a temporada acabou. A forma como as leis podem mudar e de repente você está a mercê de uma nova lei. Apenas porque alguém disse que aquele pedaço de papel não valia mais nada, uma mulher se separou da família e virou escrava sexual de um regime ditatorial. Cena rápida mas para mim muito pesada.
Emily apareceu pouco mas vemos a aia perdendo a sanidade pouco a pouco, em cada uma de suas aparições. Estuprada sistematicamente e castrada na primeira temporada, aqui ela foi enviada para as colônias onde limpava lixo químico, seu corpo apodrecendo aos poucos, foi levada de volta a ser aia, de volta aos estupros, viu um comandante morrer em cima de si, foi dada a um novo comandante que não agia como os outros. Ali ela não sabia o que a esperava, se ele não queria fazer a cerimônia, então o que ele queria? Isso tudo explodiu quando ela esfaqueou Tia Lydia. Apenas torço que as coisas agora deem certo e ela consiga chegar no Canadá e reencontre sua família.

A temporada trouxe uma personagem nova, Eden. Achei que se livraram dela cedo demais. Eden era filha de Gilead, nova demais para lembrar como era antes e fiel a como as coisas são agora. Isso causava a constante tensão de que ela iria denunciar Nick e June, algo assim. Mas, embora rápida, a virada dada a personagem foi muito boa. Eden lia a bíblia, fazia anotações e tentava entender a Palavra. Quando Gilead pediu que ela não fosse verdadeira consigo mesma, ela sabia que aquilo era errado. Porque ela conhecia a verdade divina. E não a versão deturpada que Gilead faz da bíblia. E assim ela morreu, do lado do homem que amava e fiel a quem ela era e fiel ao Deus que ela acreditava. Foi um dos episódios mais tristes para mim. E um dos mais poderosos. Nos fala sobre o poder do conhecimento.
Momentos que merecem destaque:
- A rima visual da bomba com a caneta foi linda. Duas armas diferentes mas igualmente poderosas.
- O reencontro de June com a filha Hannah foi o momento que mais me arrancou lágrimas esse ano.
- Janine amamentando a filha e provando que o amor pode curar.
- As aias se apresentando umas as outras, pelos verdadeiros nomes pela primeira vez.
- A mãe feminista de June presente no livro finalmente apareceu na série. Triste saber que ela morreu nas colônias.
- Fred estuprando June pela primeira vez fora da cerimônia. Foi uma das cenas mais difíceis de ver da série. Não que os outros estupros fossem fáceis mas June sempre dizia que estava distante e naquele ela estava 100% ali.
Esse ano de The Handmaid’s Tale pode terminar com uma sensação de termos andado muito sem sair do canto mas a verdade é que saímos sim. A revolução está cada vez mais perto e é isso que quero ver na terceira temporada, Gilead finalmente começando a ruir. E vocês, o que acharam da segunda temporada? O que esperam da terceira? Deixem nos comentários e até ano que vem!
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