Após sua saída da Marvel no ano passado, após quase 18 anos na Casa das Ideias. Brian Michael Bendis finalmente estreia na Distinta Concorrência. A chegada do Bendis na DC foi uma surpresa no mercado de quadrinhos e mais curioso foi quem ele iria escrever, O Superman, eu como grande fã do Bendis fiquei animado com a ideia, um escritor com ótimas histórias no passado, poderia encontrar inspiração em um universo novo, depois de um esgotamento criativo na Marvel.
Antes do Bendis assumir, o Superman vinha de uma sofrida fase nos novos 52 e estava em uma muito elogiada pela crítica e pelos fãs nas mãos do Peter J. Tomasi e Patrick Gleason, focando mais no seu relacionamento com a Lois e o Jon.
Bendis estreou em uma história curta no DC Nation #0 com arte de José Luis García-López, edição com poucas páginas, mas que estabeleceu alguns pontos da miniserie que estava por vim. A Lois e o Jon estão desaparecidos.
Em Man of Seel (em tradução livre, Homem de Aço), minissérie em 6 edições, ainda inédita no Brasil, Bendis resolve remexer o passado de Kal-El e a explosão de Krypton com um vilão chamado Rogol Zaar, além de adicionar uma trama sobre incêndios misteriosos e um prequel contando o que aconteceu com a Lois e o Jon.

Rogol Zaar, o vilão de Homem de Aço, por Jim Lee, Scott Williams e Alex Sinclair. (DC Comics)
O vilão Rogol Zaar revela ser o causador da destruição de Krypton e sua chegada na Terra tem o intuito de acabar com os sobreviventes, considerando os kryptonianos como uma doença que precisa ser erradicada. A ideia de alguém destruindo o planeta do Superman, apesar de não ser nova, é uma ideia no mínimo interessante, ter alguém para culpa traz bom motivo para começar a odiar o vilão.
O problema é que o personagem não tem desenvolvimento nenhum, os motivos para o seu ódio não são apontados, Bendis aparentemente prefere desenvolve-lo no futuro, deixando o vilão genérico, mostrando uma escolha equivocada para o início da sua fase, mas que pode trazer algo de interessante mais para a frente.
Algo que o Bendis não soube lidar na sua passagem pela Marvel eram as escalas de poderes de personagens muito poderosos, e nessa minissérie isso parece ter mudado, Bendis soube utilizar os poderes do Azulão, mostrando um Superman tendo que dosar seus golpes em uma batalha no meio de Metrópolis, mantendo o personagem poderoso, porém vulnerável.
A adição da Supergirl na saga, traz um frescor e ao mesmo tempo uma emergência para o conflito principal, além de acrescentar uma reconexão entre ela e o Superman, não muito presente nos últimos anos. O Bendis caracteriza a Garota de Aço como inteligente, motivada, sensível e não menos poderosa que o protagonista. Acertando em cheio na personalidade dela.
Outro ponto positivo é o desenvolvimento do Superman, Bendis escolhe colocar o nosso herói em uma era de busca, uma busca por entender essa nova ameaça que diz ser culpado pela destruição do seu planeta natal, uma busca por viver a ausência da sua família, uma busca por resolver um crime incomum, isso coloca um conflito muito interessante no personagem. Sabendo dosar na tristeza, sem deixa-lo sóbrio, mantendo o símbolo esperançoso e radiante que é característica fundamental de um bom Superman.
Na trama envolvendo o desaparecimento de sua família. Jor-El – Anteriormente Mr. Oz – convoca o Jon para uma road trip pelo universo querendo dar uma perspectiva diferente para o garoto. Jon consegue a aprovação dos seus pais, apesar de uma resistência inicial, para seguir como o seu avô, Lois resolve acompanha-lo nessa viagem, enquanto o Super fica sozinho na Terra.
Apesar de usar um personagem mal trabalhado na fase do Dan Jurgens pela Action Comics, a ideia parece ser interessante, gera uma possibilidade de trazer um Jon mais maduro como super-herói, podendo enfim utiliza-lo com outros personagens, ampliando sua interação com o universo DC. Já a Lois, não imagino onde ela possa chegar, mas o Bendis aparenta ter algo guardado para ela, já que o principal motivo dela seguir nessa viagem é ter ideias para escrever um livro.
Onde a saga se perde é na trama sobre os incêndios, apesar de ter diálogos bem escritos, com um humor bem dosado – lembrando vagamente a fase do Bendis pelo Ultimate Homem-Aranha – a conclusão entrega um gancho bem apelativo, mas que desperta uma curiosidade no leitor, se perguntando como diabos isso levará.
No balanço geral, Bendis inicia sua fase de maneira discreta, introduzindo boas ideias que podem trazer bons frutos no futuro, apesar de cometer alguns deslizes, devido a um senso de megalomania. Resta saber se o Bendis saberá desenvolver seus ganchos deixados aqui e manter a qualidade de suas histórias que parecem ser bem promissoras. Como diria Calvin Candie – personagem de Leonardo DiCaprio em Django Livre – “Cavalheiros, vocês tinham minha curiosidade, mas agora vocês têm minha atenção!”