“Capitão Fantástico” (“Captain Fantastic”), no título original) conta a história de Ben (Viggo Mortensen), que decide criar suas seis crianças em uma floresta. Ele as ensina a caçar, a sobreviver na selva e, ainda, sempre faz treinamentos como corridas e exercícios para melhorar o físico dos filhos. Porém, quando Ben descobre que sua esposa Leslie morreu, ele e as crianças vão para a cidade para garantir que os desejos da mãe sejam obedecidos.
É interessante constar no 1º ato do longa o contraste da educação que Ben fornece às suas crianças: ao mesmo tempo que as crianças lêem clássicos da literatura e estudam matérias como física e biologia, elas caçam e desossam um veado, escalam montanhas e lutam com objetos pontudos.
Além disso, é interessante observar o choque de cultura que as crianças sofrem quando chegam na cidade (como na cena em que elas jantam com os primos) e também a dificuldade em se relacionar com outras pessoas (por exemplo, quando o filho mais velho, Bo, encontra um grupo de meninas em uma loja).
A direção de Matt Ross (que é conhecido por ser ator) não isenta o pai de tudo. Apesar de reconhecer o mérito em vários pontos e, principalmente, estabelecer o inegável amor que Ben sente pelos filhos, o diretor é coerente em apontar que não é o paraíso que o pai imagina. O sogro de Ben é o mais próximo de um “vilão”, porém, o roteiro (também de Ross) não o coloca como tal, fazendo com que entendamos perfeitamente suas motivações e ações e, em certos níveis, até compactuando com elas. A fotografia, ainda, se aproveita das belíssimas paisagens fornecidas pelo local para criar um senso naturalista na vida que os personagens vivem.
Contudo, todos esses elementos só funcionam devido às interpretações magníficas de Viggo Mortensen (o famoso Aragorn, de Senhor dos Anéis) e os seis filhos. Mortensen entrega várias camadas a Ben, enquanto os jovens atores entregam performances cativantes. Vale pontuar as diferentes personalidades e observações do mundo que as crianças tem, o que reforça a individualidade de cada uma delas, e que permite que cada ator tenha seu momento.
Porém, se o primeiro ato é eficiente em estabelecer a vida que os personagens levam e o segundo é competente em desenvolver as diferenças culturais e dos dilemas de Ben, o ato final acaba se esticando, e sendo bem menos convincente que o resto da trama, desconstruindo o que tinha sido estabelecido.
No fim, “Capitão Fantástico” é uma bonita história de um pai e seus filhos que levam uma vida bem diferente e, no mínimo, estranha aos nossos olhos, trabalhando esses elementos com muita profundidade.